Poemas de Cícero Nepomuceno.
Vermelho
Simplesmente, ali a cor vermelha provocava,
ecoava em silêncio para avisar a grande massa.
Alguns fingiram não ver, mas era pura vaidade
imagine passar batido aos olhos da sociedade
vermelho era céu, lago, horizonte e paisagem
não havia como fugir, pois era clara a mensagem
pele de gente
vermelha
nódoa de tronco
vermelha
o sangue era cor
e pintava o corpo por amor
ritual da ibirapitanga
balanceio ao vento, dança
vinda da terra
não erra
sombra firme para o nosso frescor
se cortada e jogada ao lago, dor
e como fazia calor naquela época
era brasa, fogo, alaranjado
muito ouro, dourado
ocultaram os pigmentos da cor varonil
e já não sei como seria a bandeira
do nosso verdadeiro Brasil!
A margem da Marginal
A cidade é uma extensão de mim
é minha morada próspera afim.
Suas margens quando água
minério, lágrimas, mágoa.
O rio me atraiu para sua fartura
hoje transborda em amargura.
Muitos choram a certa altura,
enchente, lágrimas, penúria.
Assassinei o rio e sua margem
feito veia minha pedindo passagem.
Em nome da santa mente peço oração,
gente, lágrimas, despoluição.
Cimentaram o rio onde faço a curva
a paisagem agora é uma foto turva.
Ainda era terra, mas tornou-se tatuagem
bordas, lágrimas, lama, concretagem.
Imagens: Bruno O.
Leitura em áudio: Mário Alves (Chocolate)