Oi menina Marielle
Por aqui, não caminhamos muito não,
Até andamos para trás
Você não iria gostar desse mundo
Muitos adeuses,
São tantos que penso que o céu vai ser terra e
A terra vai virar céu.
A violência tem nos tirado de cena, ELES não conseguem nos enxergar, nos amar
Sentem um ódio por nossa pele, nosso corpo e nossas ideias,
Ah! e quando amamos intensamente, sem fronteiras e sem censura,
O nosso amor incomoda, nossa irmandade é ameaçadora
E continuam, não param de nos tirar de cena
Impondo e nos colocando num luto diário,
Pelas mulheres violentadas,
Pelas mulheres escravizadas,
Pelas mulheres estupradas,
Pelas mulheres sufocadas e entristecidas,
Pelas que são caladas, apagadas e silenciadas
A cada 8 horas uma de nós morre vítima de feminicídio
Oi menina Marielle
A cada oito minutos uma mulher estuprada
E quando ocupamos a política, nos atacam, nos ameaçam com as suas armas de opressão
Sua luta tá presente em cada uma de nós e hoje não será diferente, chamamos sua presença e continuamos cobrando: Quem mandou matar Marielle?
Ah! E os meninos pretos, indo, num compasso de um a cada 23 minutos
Oi menina Marielle
Suas mães chorosas, doloridas
Não fecham os olhos, não descansam,
Ficam acordadas para buscar entendimento
Entendimento do porquê levam seus filhos tão cedo, lhes tirando o direito à vida
Você tentou responder, te calaram
Mas nós estamos aqui, não desistimos, nos fortalecemos na sua luta e estamos presentes, movidas pelo desejo de construir esse mundo justo e afetuoso
Nossa ciranda de cumplicidades, segredos e sonhos não para, é uma gira continua ascendendo a fogueira da resistência e do sagrado
E foi essa força feminina que provocou tanto ódio neles e,
De tocaia, covardemente, sem piedade, numa noite de 14 março Quando você tb voltava de uma roda, de uma ciranda
Brutalmente, interromperam sua história de mulher negra, que sonhava, amava a vida e fechava os olhos com a certeza de que este mundo ainda será o melhor lugar para se viver
Fizemos passeatas, vigílias, encontros secretos, músicas e poesias para você pedindo JUSTIÇA e invocando o chamamento da sua força e da sua alegria politica
Hoje não vamos ocupar as ruas com nossos turbantes, tranças e caracóis
voce sabe, uma pandemia tomou conta do mundo e o nosso pais tá abandonado, de luto, chorando seus mortos e enterrando seus amores,
Mas nós, somos semente de tantas que se foram e
Com vozes forte e corpos firmes, subindo e descendo morros, ocupando palanques e fazendo das tribunas nosso lugar de fala
Vamos ocupar as telas de todas as Marias, Margaridas, Teresas e
Continuamos nossa Luta por Carolinas, Terezas, Marias, Margaridas, Luanas, Agatas, Marielles
Pelos nossos filhos João, Miguel, Guilherme e todes que as balas perdidas, mas certeiras alcançaram e tombaram para esse sistema capitalista, racista, fascista e desumano
E só vamos nos calar quando responderem Quem mandou matar Marielle?
Imagem: Bruno O./JAMAC