Feliz ano novo!*

Gostaria de desejar, desde já, feliz 2023!
Quer dizer, se sobrevivermos até lá.
Porque, fala sério, não está fácil,
Preservar a sanidade
Diante da loucura alheia…
Ainda mais se você for indígena, mulher,
Negro, LGBT, ambientalista, professor,
Trabalhador, cientista, pesquisador,
Militante de direitos humanos,
De um mundo menos injusto
Ou simplesmente humano.
Será que nesse “novo” país
estamos antecipando o apocalipse?
Em que só restarão trabalhadores sem direitos,
Banqueiros satisfeitos,
Ruralistas, mineradoras, militares,
Terraplanistas em sua fantasia,
“Cristãos” sem Cristo,
Usando a religião como escudo para tudo,
Inclusive sua hipocrisia?
Terra de moralistas sem moral
Diante da apatia
E da alienação total?
Não!
Não estamos de luto,
Estamos em luta
E a luta é agora, é hoje, é todo dia!
Por nossa casa, esse planeta azul,
Pela existência, sobrevivência.
A palavra que consola,
Que cura, que move e comove
É resistência!

Mãos sujas

Recuso-me a naturalizar a barbárie,
A achar normal a vileza,
Ter o descaso com a vida como discurso,
O ódio e a violência como prática.

Caminhar sobre mortos,
Não respeitar a dor das famílias,
Usar a mentira como método,
Agir como um genocida,
E ainda assim ser tratado como mito,
Tendo as mãos sujas de sangue,
Não é da disputa política…
É, na verdade, sintoma de uma sociedade doente,
De falência da democracia
Da civilização em si.
A violência, como método político,
Deve ser combatida sempre.
E mãos sujas do sangue de seu povo
Não há água e sabão
Ou álcool em gel no mundo
Que possam limpar!

Aprendi, com bons professores
E com a história,
Que a democracia a tudo tolera,
Menos os intolerantes!
Por isso, opinião eu respeito,
Fascismo eu combato!

O poema “Feliz ano novo!” foi publicado originalmente no livro “A poesia e a luta”, com ilustrações de Vander Bourbon. Editora Vento Forte, 2020.

Imagem: Bruno O.

Compartilhe:

Escrito por Prof. Betinho

Roberto Bezerra dos Santos, professor Betinho, é formado em Letras pela USP e atua na rede pública de ensino desde 1996, sendo desde 2002 professor concursado de Língua Portuguesa no município de São Paulo e desde 2003 no município de Diadema. Ativista cultural, do movimento negro (Círculo Palmarino) e Hip Hop, é presidente de time de várzea (GRE Congregação Mariana). Facebook: professorrobertobetinho Instagram: profbetinho Twiter: profbetinho1973

Deixe um comentário