Poema de Matheus Penna

Eu bem que gostaria de estar vivo
Vendo meus filhos crescendo, amadurecendo
Mas sei lá, tem alguma coisa que ando temendo
Privilégio pra mim é chegar aonde quero
sem ser parado ou confundido por algum critério
mas esses critérios que me assustam
preto
favelado
e honro minha negritude
Quem me vê pensa:
que neguinho pouca bosta
Ai gente, eu tenho dó, mal sabem que sou poliglota hahaha
Digo que a favela venceu, e mesmo ela vencendo nunca esquecerei daonde eu vim.
“Eu vim de lá eu vim de lá, pequenininho, mas eu vim de lá pequenininho. Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho”.
Mas cheguei com tudo, pra mostrar que também posso
Preto e dinheiro são palavras rivais
então mostra pra esses cu como é que faz
mas dinheiro não é tudo nessa vida
dizem que não compra felicidade
mas chega
duvido que comprar aquele tênis não satisfaz sua vontade
Chega de prioridades
Suas tentativas de nos calar só estão sendo falhas, que dó
dói muito saber que corro risco a qualquer hora
“na rua
na chuva
na fazenda
ou numa casinha de sapê”
não deixo de ser preto
e com orgulho e respeito
qualquer coisa que os branquelo faz, eu também tenho direito
qualquer coisa que eu faço
é crime ou desrespeito
Se vem uma viatura
já ficamo na atividade
meu amigo me diz:
“Vamo ser enquadrado”
e eu digo:
“Podes crê, amizade!”
Sou concreto no que falo
armado até os dentes
Caneta e o papel são minhas armas
E não economizo bala no pente
Mas a caneta é pique a gente, né
temos um destaque, mas chega um branquinho e…
nos cobre na maldade
Mal sabe ele que nossa tinta é permanente
Antes jogavam caxangá
mas hoje jogam a gente
no fundo das estatísticas. Mas normal
comum
entre bilhões sou só mais um
mais um que vai vencer
crescer
mostrar meu poder
e eles vão se fuder
porque as regrinhas deles, eu não vou obedecer
temos tudo o que precisamos, mas não
não quero acabar com vocês
Só quero mostrar que sou o mesmo que esses freguês, porque na consciência negra posta textinho emocionante
A Globo tá perdendo um ótimo pretendente
agora eu deixo uma última pergunta
e essa queima na pele
então ouça com atenção:
Só mataram Marielle?

Gravações em áudio: MC LO
Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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