Ofício enviado à Secretaria Municipal de Cultura solicita explicação sobre a não inclusão de Cidade Ademar em programas de Formação Artística.

Vários artistas, coletivos culturais e entidades que participam do Fórum de Cultura de Cidade Ademar e Pedreira enviaram no dia 15/12/2021 um ofício destinado à Secretária de Cultura do Município de São Paulo, a Sra. Aline Torres, ao Sr. Pedro Granato, da  Supervisão de Formação, e à Sra. Aurora da Silva Oliveira, Coordenadora de Casas de Cultura da Cidade de São Paulo, referente à solicitação de Programas de Formação na região de Cidade Ademar e Pedreira, uma vez que os editais dos programas de Formação Artística para a cidade de São Paulo foram abertos e não incluíram a Casa de Cultura Itinerante da Cidade Ademar como local para os educadores escolherem para sua atuação.

A carta solicita explicações sobre a não inclusão da Casa de Cultura Itinerante de Cidade Ademar como local de indicação para atuação dos educadores. Cita o caráter excludente, meritocrático  e antidemocrático dessa decisão. Diz um trecho do documento: “Acreditamos que a forma de escolha dos locais para receberem os programas, a partir de bairros que possuem equipamentos públicos de cultura, seja excludente, meritocrática e acima de tudo antidemocrática, pois não universalizam o direito à cultura, uma das principais funções do poder público.” Em outro trecho, lemos: “Acreditamos que, mesmo sem o espaço físico da Casa de Cultura, assim como as atividades da Casa de Cultura Itinerante da Cidade Ademar, os programas de formação como o Programa Vocacional, o PIA, o CRIA, o Território Hip Hop, o PIAPI, entre outros, possam ser realizados por meio de parcerias com os espaços de cultura independentes e espaços públicos disponíveis como a Subprefeitura da Cidade Ademar e/ou escolas municipais em turnos sem aula.”

Vale lembrar que a Casa de Cultura de Cidade Ademar é uma reivindicação antiga da sociedade civil, de ativistas, artistas e coletivos da região, que remonta lutas que vêm desde a década de 1990, ainda na época do ex-prefeito Celso Pitta, que foi o primeiro a se comprometer com a construção da Casa e não cumprir. Junto com Parelheiros, Cidade Ademar não possui nenhum equipamento público de Cultura. Muitos anos seguiram, com idas e vindas, avanços e retrocessos na luta pela construção da Casa, em diferentes governos. No início de 2020, houve um avanço significativo com a formalização da Casa de Cultura Itinerante de Cidade Ademar, mesmo sem a consolidação de seu espaço físico, mas já com a garantia de verba, ainda que mínima, para a programação e contratação mensal de atividades artísticas, em parceria com diversos espaços (praças, escolas, instituições) do território.  O processo de construção da Casa de Cultura de Cidade Ademar está em andamento, em fase de Projeto Executivo para posterior licitação de construção. Por isso, seria muito importante que os Programas de Formação começassem a ocorrer no território, vinculadas à Casa de Cultura. “É um jeito de já começar a fortalecer a região, com o equipamento de Cultura e também formação de público, dizer que vai ter uma Casa. Tem todo um trabalho já de formação de público, formação de pessoas para atuarem na Casa. Então, é importante estar como local (de Formação), além de ser também uma chamada para o poder público estar olhando para lá, não só a Casa de Cultura Itinerante, não só o Núcleo de Casas de Cultura, mas toda a Secretaria de Cultura já estar olhando para o nosso território”, diz Thais Scabio, cineasta e uma das referências culturais da região. Ela completa: “Uma das coisas que a gente sempre levanta é  que os locais que não têm equipamento de Cultura não possam ser prejudicados  duas vezes, ser punidos duas vezes, por não terem equipamento e, com isso, os programas da Secretaria não irem  para esses lugares, principalmente os de Formação.”

De fato, soa como uma dupla punição a um território tão adensado e com uma Cultura tão pulsante quanto o de Cidade Ademar/ Pedreira, ainda sem nenhum equipamento físico de Cultura oferecido pelo poder público, seja municipal, estadual ou federal, ser excluído de programas de Formação Artística oferecidos pela SMC. Dessa forma, a justa reivindicação do Fórum de Cultura deveria ser atendida o mais breve possível, para o bem de todos que produzem e consomem arte na região.

Confira o conteúdo do Ofício em sua íntegra abaixo:

São Paulo, 14 de dezembro de 2021

OFÍCIO 004/21

À Secretária de Cultura do Município de São Paulo

Sra. Aline Torres

A/C Supervisão de Formação

Sr. Pedro Granato e Coordenadora de Casas de Cultura da Cidade de São Paulo

Sra. Aurora da Silva Oliveira

Ref.SOLICITAÇÃO DE PROGRAMAS DE FORMAÇÃO NA REGIÃO DA CIDADE ADEMAR 

Nós, do Fórum de Cultura da Cidade Ademar e Pedreira, representando a sociedade civil, entidades, artistas e coletivos da região abaixo assinados, vimos por meio deste solicitar explicação quanto a não inclusão da Casa de Cultura Itinerante Cidade Ademar como opção de local de execução dos programas de formação desta Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.

Acreditamos que a forma de escolha dos locais para receberem os programas, a partir de bairros que possuem equipamentos públicos de cultura, seja excludente, meritocrática e acima de tudo antidemocrática, pois não universalizam o direito à cultura, uma das principais funções do poder público.

Reiteramos nossa solicitação pela inclusão da nossa região nos programas de formação em diversas reuniões e oportunidades que tivemos com essa secretaria pela importância e relevância do tema. A inclusão de programas de formação em regiões que não possuem equipamentos públicos de cultura é de extrema necessidade, pois são territórios duplamente violados por seus direitos à cultura: com a falta de equipamento e, por conta disso, são excluídos de programas de formação e difusão desta Secretaria. Somos a única subprefeitura sem equipamento de cultura e, em 2020, conquistamos o direito de entrarmos nas programações das Casa de Cultura mesmo não tendo um espaço físico. Essa conquista trouxe um importante movimento das atividades artísticas da região mesmo durante a pandemia.

O CEU Alvarenga é o único espaço na região que tem programas de formação e atinge menos da metade dos moradores, pois fica na parte do território da Pedreira. O CEU Caminho do Mar fica no Jabaquara, fora de nossa subprefeitura. Boa parte dos moradores precisam utilizar transporte público para ambos os locais.

Acreditamos que, mesmo sem o espaço físico da Casa de Cultura, assim como as atividades da Casa de Cultura Itinerante da Cidade Ademar, os programas de formação como o Programa Vocacional, o PIA, o CRIA, o Território Hip Hop, o PIAPI, entre outros, possam ser realizados por meio de parcerias com os espaços de cultura independentes e espaços públicos disponíveis como a Subprefeitura da Cidade Ademar e/ou escolas municipais em turnos sem aula.

Além disso, em virtude de termos poucos inscritos da região nos editais, solicitamos curso de inclusão para cada edital, chamamento ou programa, com pessoas da região mediando junto a formadores ou curadores da secretaria.

Por fim, reafirmamos nossa luta por direito à cidade e à cultura, ficamos no aguardo de uma manifestação positiva ainda em 2021 por parte desta Secretaria diante de nossa reivindicação e nos dispomos para uma eventual reunião para mais elucidação sobre a proposta.

Imagem: Grupo do Fórum de Cultura Cidade Ademar e Pedreira

Compartilhe:

Escrito por Prof. Betinho

Roberto Bezerra dos Santos, professor Betinho, é formado em Letras pela USP e atua na rede pública de ensino desde 1996, sendo desde 2002 professor concursado de Língua Portuguesa no município de São Paulo e desde 2003 no município de Diadema. Ativista cultural, do movimento negro (Círculo Palmarino) e Hip Hop, é presidente de time de várzea (GRE Congregação Mariana). Facebook: professorrobertobetinho Instagram: profbetinho Twiter: profbetinho1973

Deixe um comentário