Por Pastor Carlos Seino

É velha a concepção de que nada não pode estar tão ruim que não possa piorar.

As eleições presidenciais de 2018 nos surpreenderam com a vitória de um candidato que, com quase nenhum tempo de propaganda eleitoral, porém, com muita habilidade nas redes sociais, acabou por vencer as eleições.

Tal candidato, com falas ofensivas, estapafúrdias acerca do trato com as mulheres, de questões raciais e sociais, com forte inclinação militarista e golpista, acabou por encarnar uma espécie de direita popularesca, extremista, cuja radicalidade veio em um crescente por conta do manejo nos canais digitais.

O Brasil pagou caro por isso, pois veio a pandemia e escancarou o despreparo, a inabilidade, a incompetência, o negacionismo de um grupo que, por muito pouco, não se perpetuou no poder.

E agora, o que vemos no município de São Paulo, parece uma repetição mais extremada dessa novela que já assistimos.

Canais de televisão, nos debates eleitorais, abriram espaço para um especialista ainda maior em comunicação digital, bem como mestre na arte da ofensa. Um “outsider”, que procura com seu discurso desqualificar a todos os demais, usando do mais baixo recurso “ad hominem” contra seus oponentes, condenado pela justiça com decisão transitada em julgado. Alguém que usa o espaço concedido não para debater ideias, não para respeitar as regras do debate, não para responder perguntas de jornalistas, mas simplesmente para “causar”, para fazer o corte perfeito, para viralizar nas redes. 

Os canais tradicionais de comunicação deveriam repensar sua participação nisso tudo, pois o candidato ao qual aqui me refiro sequer teria tempo de TV. Porém, com a conjugação de sua participação, mais sua habilidade nas redes sociais, e também, com seu enorme capital (um dado muito perigoso) só o elevou nas intenções de voto.

Porém, triste mesmo é ver parte da juventude periférica encantada com tal discurso “encantador”, “rebelde”, “cômico”, “arrojado”, de alguém “expert” na arte de impressionar com palavras, mas sem nenhum conhecimento da cidade que pretende governar. Soma-se a essa tristeza, certo desprezo que parte da mesma mencionada juventude parece ter por quem, também nesta disputa, teve uma origem verdadeiramente periférica, que estuda e estudou os problemas da cidade (mesmo que possa ter ideias equivocadas, quem não as tem?), ou de quem, mesmo não tendo origem humilde, abriu mão de privilégios que poderia ter para lutar pelos mais pobres.

Espero que acordemos desse pesadelo. Que a cidade de São Paulo não se permita tal imprudência. Que, se necessário, no segundo turno, pessoas do campo progressista e conservador se unam em defesa do jogo democrático, repelindo esse corpo estranho que mui habilmente só se utiliza dos mecanismos do sistema para se promover.

Imagem: Bruno O.

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Escrito por Expresso Periférico

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