Uma praça que surge por iniciativa de moradores que ficaram incomodados com o abandono e falta de consciência por parte de quem descarta entulho de maneira irregular.

O Jardim Miriam é um dos muitos bairros da periferia sul da cidade de São Paulo que foi sendo formado ainda no início da década de 1950, condição imposta pelo processo de industrialização. Situado numa região estratégica, entre as cidades que compõem o grande A, B, C, D e o bairro de Santo Amaro em São Paulo, espaços que estavam em pleno desenvolvimento industrial, serviu como atrativo para migrantes vindo, em grande parte, do Nordeste e Minas Gerais.

Sem o apoio do Estado, milhares de trabalhadoras e trabalhadores buscavam cortiços, moradias coletivas e bairros periféricos que estavam surgindo na periferia de São Paulo para se estabelecer e ter onde morar.

O Jardim Miriam foi um desses bairros que, além do arruamento precário, porém bem definido, o loteador ofereceu alguns milhares de tijolos objetivando atrair compradores para uma área muito distante e sem transporte, o que dificultava os deslocamentos.

As moradias foram sendo construídas e o bairro sendo formado pela iniciativa dos próprios moradores no processo de autoconstrução. Pequenas casas sem água, esgoto, energia elétrica deu “cara” a um bairro que, no início da década de 1970, sofreu uma segunda onda de crescimento com a ocupação das poucas áreas que tinham sido reservadas para pequenas praças.

A EMEF Antônio de Sampaio Dória foi construída em um desses espaços que, até meados de 1960, era a praça do bairro onde, inclusive, tinha o campo de futebol oficial do Jardim Miriam.

O crescimento populacional do bairro e a falta de espaços para construir novas unidades escolares, acarretou a implantação do que viria a ser a terceira unidade educacional do Jardim Miriam na praça que conhecemos como redondão e hoje recebe o nome de Tito Pacheco.

Esta EMEF ocupou a praça e os poucos espaços públicos foram gradativamente tomados por comunidades/favelas, dando ao bairro as características que possui atualmente.

As poucas áreas verdes ficaram circunscritas à praça do Jardim Miriam, à praça Dina Sfat e a algumas ruas por iniciativa de moradores.

Atualmente o Jardim Miriam soma uma população com mais de 110 mil habitantes, sendo um dos bairros mais populosos da cidade de São Paulo, e continua acumulando muitas carências, principalmente com falta de áreas verdes e de convivência para atender a imensa população que mora e transita pelo território.

A EMEF Sampaio Dória, enquanto espaço educacional, se consolidou como referência para toda comunidade e, atualmente, presencia a iniciativa louvável de moradores que estão, por iniciativa própria, reconfigurando o entorno da escola com uma praça e muito verde.

A PRAÇA JAMAICA

A praça Tito Pacheco, localização da EMEF professor Antônio de Sampaio Dória, fica no final da Av. Braz de Abreu. 

Nos últimos anos, a calçada de praça e da escola vem sendo utilizada como ponto de descarte para entulho, situação muito comum em diversos pontos da cidade, sem que o poder público consiga coibir uma prática que, infelizmente, provoca danos ambientais, degradação do espaço público e redução de espaços destinados à circulação de transeuntes.

O espaço, cada vez mais degradado, com muito entulho e lixo, passou a ser, inclusive, um problema de saúde pública, possibilitando o acúmulo de detritos que facilitam a proliferação de ratos, baratas e insetos transmissores de doenças.

Percebendo a gravidade do problema, a professora Tânia, que leciona na EMEF Professor Antônio de Sampaio Dória, juntamente com alunos e alunas, iniciaram no final de 2021 uma série de intervenções para reconfigurar o entorno da escola e reduzir a quantidade de entulho. A iniciativa foi parcialmente atingida, porém, era preciso somar à iniciativa da professora, o poder fiscalizador da prefeitura que, provavelmente, por falta de agentes e à grande quantidade de pontos viciados espalhados pelo território, não conseguiu coibir descartes ilegais. 

Por outro lado, é preciso implantar mais pontos de coleta de entulho e descartáveis, tendo em vista que, na subprefeitura de Cidade Ademar, temos apenas dois pontos para uma população que soma mais de 400 mil habitantes no território.

Percebendo a continua degradação do espaço, o Jamaica, morador histórico do território, iniciou um processo de revitalização do entorno e calçada da escola.

Sendo uma iniciativa que depende unicamente dos moradores: Jamaica, Timba e Erinaldo, também conhecido como Gordo, realizam uma ação paisagística com distribuição de mudas que está se tornando referência e, sobretudo, valorizando um espaço que estava sendo degradado e com muito entulho e lixo acumulado.

A praça Jamaica é a representação mais acabada do poder da ação coletiva para reconfigurar espaços públicos e o reconhecimento que solidariamente é possível envolver os moradores numa ação cidadã.

É verdade também que é responsabilidade do poder público estabelecer parcerias com a comunidade para apoiar iniciativas que somam para valorizar o bem público e garantir espaços de lazer e cultura, principalmente para os bairros periféricos.

Jamaica e parceiros: cidadãos que sonharam e tornaram realidade a praça Jamaica. A praça da escola e de todos nós onde é frequentada pelos moradores, moradoras e crianças que são acolhidas e passam a valorizar a natureza.

Imagens: Mauro Castro

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Escrito por Mauro Castro

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