Depoimento de Sr. João, morador e ativista local

Segue o Relato do Sr. João, morador e lutador histórico do nosso território que, em depoimento contundente e carregado de sabedoria, expressa muitas dúvidas sobre uma intervenção da prefeitura de São Paulo que pode se revelar bastante inadequada para atender os interesses da população que sofre com inundações no entroncamento das ruas Vale da Nogueira, Florinda Bermúdez e Rolando Curti, Americanópolis. As observações do Sr. João, além do fato de sofrer diretamente com a situação enquanto morador das imediações, reúne experiência no acompanhamento da dinâmica das intervenções do poder público no território.  É, portanto, preciso quando pontua os descaminhos em relação a obra que está em andamento.

A realidade é que, no passado, as enchentes atingiam 1,5 metros de altura no encontro das ruas Rolando Curti com a rua Florinda Mouzo Bermudes. Com o primeiro piscinão, localizado próximo da rede atacadista Roldão, ocorreu uma redução no volume de água que atingia e, após a construção, essa altura foi reduzida a 50 cm. Todavia, as reclamações por parte da população continuaram, tanto no Conselho Participativo do Jabaquara, Cidade Ademar, como nos demais fóruns. A reclamação situa-se em virtude de não ter sido feito o piscinão do outro lado da Rolando Curti, que teria como destinação, receber as águas do córrego Tanquinho que até esta obra que está em processo, despeja suas águas no córrego do Cordeiro sem passar pelo piscinão já construído. 

A demanda da população é construir aquilo que já havia sido programado no terreno deixado pela gestão Haddad. O correto seria retomar a construção do novo piscinão, mas, sendo um ano eleitoral, a opção foi aumentar o diâmetro da tubulação que passa embaixo da rua Rolando Curti e acrescentar mais 300 metros de canalização do córrego Tanquinho.

Por outro lado, sendo uma ação emergencial proposta pelo prefeito Ricardo Nunes, ninguém sabe quais valores estão sendo empenhados numa obra cheia de problemas. O fato é que a intervenção iniciada efetivamente em janeiro, mantém três ruas interditadas, causando numerosos transtornos para quem transita pelo local. Soma-se, também, a interdição da pracinha e o acesso entre a Rolando Curti e a rua Mário de Campos. Ficamos, literalmente, interditados e ilhados.

No transcorrer desses meses em que a obra está em andamento, diversos problemas ocorreram: primeiro eles furaram o cano de esgoto, depois furaram o cano do gás. Os bombeiros tiveram que intervir, veio polícia, e moradores foram, intempestivamente, removidos, tendo em vista a possibilidade real de ocorrer incêndio e, no limite, estabelecer o pânico entre a vizinhança já transtornada em função da obra que se arrasta.

Temos também, o caso de uma moradora acamada que sofreu muito, pois teve de ser removida de sua casa. A esses transtornos somaram o rompimento dos canos que conduzem os fios da internet.

Particularmente nessa região, tem cabeamento de telefone enterrado. O conjunto de acontecimentos adversos tem mostrado absoluto despreparo por parte da empresa que está conduzindo a obra. Não trazem as plantas de instalações já consolidadas e,  como consequência, ocorrem danos à infraestrutura instalada, gerando e implementando o caos absoluto.

Do lado da fábrica, próximo de onde estão fazendo a intervenção, tem uma casa e para não a comprometer, avançaram para o lado da fábrica. A consequência da manobra foi a queda de um muro de 4m de comprimento por 10m de altura. 

O muro de arrimo de uma casa que está localizada próximo às obras foi realizado após muita insistência por parte dos moradores. Por outro lado, um quartinho, que estava próximo ao muro construído, veio abaixo, caindo dentro do córrego.

É um verdadeiro desastre: o trânsito tornou-se difícil e carros, ambulância e transporte de serviços não têm acesso a uma área que é entroncamento e fundamental para a circulação viária, comprometendo sobremaneira o trânsito e o transporte coletivo.

Para se deslocar até a Avenida Cupecê, via onde transitam as principais linhas de ônibus e acesso para boa parte da zona sul de São Paulo, é preciso fazer um contorno que compreende subir até o CEU Caminho do Mar, que fica na Avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, e descer em direção à Avenida Cupecê pela Estrada Antiga do Mar, percurso este que demora, ao menos, 20 minutos.

O trânsito a pé envolve colocar o pé na lama, com risco de sofrer acidente por falta de sinalização adequada para o trânsito de pedestres.

O fato é que, ao menos 25.000 famílias, estão passando por um tremendo perrengue sem a garantia de que o serviço será definitivo, tendo em vista que o problema das enchentes pode ser deslocado para dois quarteirões abaixo onde era para ser feito o outro piscinão, em terreno que já está à disposição para receber a obra.

Na sequência das intervenções que estão sendo feitas, existe um afunilamento: a tubulação possui apenas um metro de diâmetro que não dará vazão às águas que descem em tubos que possuem 4 metros de largura por 3 metros de altura.

Como resultado; uma potencial área de inundação na rua arquiteto Felipe Júnior, próximo da creche Mãe Operária e de todo o entorno.

Gambiarra eleitoreira

É, reconhecidamente, uma verdadeira gambiarra que não observa as tubulações que estão enterradas e pode ter consequências futuras para toda região. Serviços de eficácia duvidosa com potencial   esmagamento de tubulações enterradas. Os danos podem se apresentar posteriormente na medida que na área circulam veículos pesados. O trânsito de caminhões e tratores sobre o asfalto pode, no limite, comprimir os tubos que foram postos pela companhia telefônica e, eventualmente, se tiver de serem removidos os cabos que estão enterrados provavelmente se encontrarão amassados. Tudo isso aponta para a necessidade de quebrar novamente o asfalto. 

O caso da Comgás ilustra bem o trabalho duvidoso que estão fazendo. Para garantir o fornecimento interrompido com as obras, trabalharam duramente por dois dias no início de maio, inclusive na madrugada, e fizeram mais uma gambiarra: uma duela por cima da tubulação que pode sofrer abalo e rompimento com o trânsito pesado. 

Já os comerciantes não estão podendo trabalhar. O subprefeito de Jabaquara, juntamente com seu chefe de gabinete, esteve presente na região para ouvir os comerciantes que estão sofrendo com a interdição de toda região. 

Solicitaram contribuição para pagar no mínimo o aluguel, tendo em vista a situação que enfrentam: baixo ou nenhum movimento no comércio local composto por borracheiros, cabeleireiros, bares e adegas que não estão faturando o mínimo necessário para cobrir custos básicos.

Sem o trânsito de carros e pedestres os negócios ficam inviabilizados. 

A resposta do subprefeito foi a mais inusitada: recomendou aos comerciantes que entrassem com um processo contra a prefeitura alegando que não podia fazer nada, tendo em vista que a intervenção é responsabilidade da Secretaria de Obras e que quem havia mandado fazer tinha sido o prefeito. 

É sabido que qualquer questionamento jurídico, principalmente sendo movido contra a prefeitura, envolve tempo e não existe garantia de vitória. 

As calçadas foram danificadas, retiraram pontos de ônibus, trazendo imenso transtorno para a população local. 

Essa obra, da forma como está sendo realizada, não foi pedida pelos moradores. A intervenção, segundo a placa fixada, começou dia 8 de outubro de 2023 e, até agora, não acabou e deve se arrastar por mais algum tempo. Com as chuvas, o volume de lama é impressionante e, por conta da reclamação dos moradores, a empreiteira joga um caminhão pipa com água para lavar um pedaço da rua às quartas e sábado, o que não resolve o problema.

Com o que parece ser o final da obra, os trabalhos estão sendo acelerados para que o prefeito a inaugure até junho com o objetivo de não ser enquadrado nos limites legais impostos pelo período eleitoral para inaugurar obras públicas. 

Tudo indica que a obra não será finalizada pela forma como está sendo encaminhada e pelos erros visíveis que estão sendo cometidos. O prefeito não terá tempo e, possivelmente, coragem para inaugurar.

Imagens: Mauro Castro

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Escrito por Expresso Periférico

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