O empreendedorismo não é solução para o desemprego
Em momentos de crises não faltam iluminados que encontram a palavra mágica que soluciona os problemas do desemprego. Agora nos dizem que devemos ser criativos e ousar. É tempo de empreendedorismo.
O povo brasileiro é, sem dúvida, criativo. Empreendedor? Talvez. Só que por falta de capital, sua luta pela sobrevivência lhe obriga a empreender em negócios de fácil retorno: vendedor de drops, chocolate, capas de documentos, pen drives … no metrô e ônibus.
A necessidade obriga, aos vendedores de queijo coalho, viajar nos meses de verão, desde o Ceara até o litoral de São Paulo, para sustentar a família que ficou no Nordeste. Outros andam pela areia quente das praias o dia inteiro oferecendo óculos de sol, aparelhos de som e relógios. Já no trânsito, vemos, nos faróis, malabaristas, engolidores de fogo, limpadores de para-brisa.
Hoje, assistimos nas ruas um grande número de “entregadores” andando de motos e bicicletas, arriscando suas vidas no meio do trânsito, trabalhando mais de 14 horas por dia, sete dias da semana, para atender a demanda dos “aplicativos”, que, no final das contas, é quem fica com o lucro. Mas qual a outra opção para os jovens? Trabalhar de caixa num supermercado, ganhando uma miséria e numa escala de trabalho de 6 X 1? Vender sapatos e roupas em lojas em troca de uma mísera comissão? Os jovens de hoje querem mais do que isso; querem futuro. Querem consumir o que veem pela televisão. Querem participar do avanço tecnológico da economia. Querem ser Gente!
Embaixo das marquises, dormem os mais abandonados que investem na mendicância. Seu estado deplorável provoca compaixão nos corações que ainda tem olhos para enxergá-los. Estes são os chamados “invisíveis”, que vemos vagando pelas noites em busca de algo que possa ser rentável nos lixos das casas. O mundo das drogas é um negócio mais rentável, atraente, mas mais arriscado também. Às vezes emprega; outras, elimina a pessoa e assim diminui o desemprego.
São estes os empreendimentos que empregarão as multidões desempregadas? Empreender sem uma visão mais aprofundada sobre política social e política pública não é uma resposta, mas um aprofundamento do problema.
Defendemos que o empreendedorismo deve contribuir para empoderar e trazer benefícios para cada um e para a comunidade, que todos em sua volta possam sentir melhoras no seu cotidiano. Aproximar as pessoas e valorizar o espaço em que vivem. Que possa trazer segurança e conforto para todos, enfim, que seja plenamente sustentável.
Imagem: Bruno O.