Canalização dos afluentes do córrego do Cordeiro e suas consequências para a população mais desfavorecida.

Canalização dos afluentes do córrego do Cordeiro e suas consequências para a população mais desfavorecida

O córrego do Cordeiro nasce na região do Jardim Miriam, Cidade Júlia e Vila Clara. Percorre o território  por 7,9 km até chegar ao rio Pinheiros.   As áreas próximas à  nascente são bastante adensadas e com muitos problemas de infraestrutura que  trazem sérias consequências para a população.

Serpenteando suas águas em grande parte na periferia  de Cidade Ademar, sofreu intensa ocupação em suas margens sem que o poder público interviesse para viabilizar um plano habitacional e, assim, reduzir a ocupação desordenada que compromete a vitalidade desse importante curso d’água para a região e para a cidade. Infelizmente, no passado não tão distante, o poder público lidava com os cursos d’água efetuando a canalização, escondendo rios e córregos na medida que estes eram usados como esgoto a céu aberto e a canalização fechada servia para livrar a população do incômodo provocado por falta  de saneamento e saúde. Foi, portanto, mais conveniente, do ponto de vista econômico e do ponto de vista dos interesses políticos, canalizar e continuar jogando os dejetos em seus leitos. Com o passar dos anos, essa política de esconder os córregos revelou-se extremamente perversa para a cidade, sem resolver os problemas de enchentes e de saúde, além dos danos ambientais e várzeas  ocupadas para construção de avenidas e, na periferia, por habitações inadequadas, tendo como resultado periódicas enchentes que, via de regra, levam tudo que o povo pobre possui.

A saída encontrada pelo poder público para reduzir o impacto de enchentes foi a construção de grandes piscinões. Muitos a  céu aberto para segurar as águas de chuva, sobretudo no verão. Por outro lado, os córregos e também os grandes rios que cortam a  cidade continuaram sem nenhuma intervenção para  conter os altíssimos índices de poluição e contaminação, revelando-se verdadeiros  esgotos a céu aberto.

A partir da década de 1990, a pressão popular para efetuar a despoluição dos grandes rios da cidade de São Paulo tornou-se cada vez mais intensa e o  Pinheiros, por ser um rio que passa por uma área nobre da cidade, começou a sofrer intervenções com o objetivo de tentar despoluir  e  emprestar cara nova ao rio que, gradativamente, vai sendo reintegrado à  condição de curso d’ água com potencial valor econômico. Por outro lado, não  houve preocupação com os córregos que jogam suas águas no Pinheiros, que continuam abastecendo o rio com  esgoto e todo tipo de material sólido.

Para efetuar a despoluição, o governo do Estado de São Paulo investiu, aproximadamente, 160 milhões de reais. Optou pelo processo de flotação, método de separação para misturas de sólidos  dos líquidos com a inserção de ar no líquido, nas quais um dos elementos se adere e acaba separando um elemento do outro. Esse processo durou por aproximadamente  10 anos e, segundo notícias publicadas no jornal Folha de São Paulo, não obteve nenhum resultado satisfatório. Assim, a água do rio Pinheiros continuou contaminada,  provocando insatisfação na população que via o dinheiro público ser consumido por empreiteiras para quem sempre é um bom negócio, obras gigantescas com resultados duvidosos.

A partir de 2019 uma nova abordagem passa a ser implementada para garantir a despoluição do rio Pinheiros. Ação  que consiste em reduzir o esgoto que é lançado em seus afluentes e, até 2022, segundo mais uma vez promete o governo, melhorar a qualidade das águas. O objetivo é  conectar 500 mil imóveis à rede de esgoto e ainda beneficiar 3 milhões de pessoas numa ação que implica  promover a despoluição e a realização de tratamento dos afluentes diretamente nos córregos. Portanto, a proposta de despoluição que recebe o nome de Novo Programa Rio Pinheiros, conduzido pela Sabesp através de empresas contratadas, tem como objetivo  reduzir o impacto do esgoto sobre a calha do Rio Pinheiros e melhorar de maneira significativa as condições de poluição ao longo da bacia do rio.

Quais são as consequências dessa gigantesca ação para a população que mora nos afluentes do córrego do Cordeiro que, por sua vez, é  um dos grandes afluentes do Rio Pinheiros?

O bairro de Cidade Ademar e todos os demais  bairros que fazem parte da subprefeitura de Cidade Ademar e parte do Jabaquara possuem córregos que jogam suas águas na bacia do Pinheiros, tendo na região  o córrego do Zavuvus e o córrego do Cordeiro. 

É, portanto, inegável que as ações para despoluir  o rio Pinheiros e, consequentemente, a canalização e retirada do esgoto que cai sem tratamento nos córregos da região, constituem um ganho para a saúde de milhares de pessoas que moram às margens desses afluentes, que, por falta de políticas habitacionais, são obrigadas a ocupar as áreas onde as condições de saneamento são absolutamente inadequadas.

As obras de drenagem de esgoto e requalificação urbanista contida no projeto Novo Pinheiros tiveram início em 2019, às quais estamos presenciando com as intervenções na avenida Cupecê  e nas vias paralelas para cumprir a etapa de canalizar o esgoto que corre para o leito  do Cordeiro. A mesma ação está acontecendo também no Zavuvus, que foi motivo de abordagem na primeira edição do Expresso Periférico,  onde mostramos  os  impactos desse processo que está acontecendo na região de Vila Missionária e Vila Joaniza. 

Por outro lado, o resultado da canalização dos afluentes do córrego do Cordeiro nas áreas periféricas tem obedecido a um critério extremamente duvidoso pois, segundo relato dos moradores, tem causado um estrangulamento no leito desses pequenos cursos d’água que sofrerão profundo impacto  com a chegada do período das chuvas, provocando inundações nas moradias que ficam muito próximas ao leito dos córregos . Vale lembrar que boa parte da revitalização urbana não deve acontecer aqui nas áreas periféricas e sim na várzea do rio Pinheiros que tem no seu entorno grandes empreendimentos e faz parte da chamada área nobre da cidade.

Os moradores, juntamente com o Conselho Participativo de Jabaquara e Movimento de Saúde, estão continuamente alertando a Sabesp sobre a forma com que está sendo construída a rede de esgoto coletora que, em muitas situações, está literalmente dentro dos córregos, o que pode acarretar em enchentes por conta do estrangulamento na  passagem das águas.

Esta situação tem sido motivo de denúncia e, na quarta-feira dia 19 de maio, em reunião promovida com os representantes da Sabesp e da empresa que está conduzindo as obras dos ramais para coleta de esgoto, o representante da Sabesp alegou que alargar, aprofundar e fazer a manutenção da várzea dos córregos é de responsabilidade da Prefeitura Regional. Com essa alegação, os moradores entendem que a Sabesp está se eximindo de responsabilidade e, neste sentido, joga nas mãos da população um tremendo abacaxi e quando as enchentes  voltarem a acontecer, seguramente deve impactar de maneira significativa a vida de quem já tem pouco e, via de regra, só ocupam essas áreas por absoluta indiferença do poder público.

Para saber mais acessa a matéria da primeira edição do Expresso Periférico, Córrego do Zavuvus: uma tragédia a céu aberto.

Fontes consultadas: Sabesp e Revista Trip.

Link do vídeo:

https://youtu.be/Wvsj-pFQgHU

Imagens e video: Mauro Castro

Compartilhe:

Escrito por Mauro Castro

Deixe um comentário